Escolher o tipo de imóvel para a sua necessidade e condição financeira não é tão simples quanto parece. Um novo, geralmente na planta, é mais fácil de pagar no início, mas pode ser que não fique pronto dentro do período desejado e o comprador terá que esperar. Já um usado costuma ter cômodos mais amplos, mas por conta de sua localização e formas de financiamento pode sair mais caro. Há vantagens e desvantagens nos dois casos, segundo especialistas. Mais vagas de garagem e espaços de lazer em um imóvel mais moderno, ou mais espaço, mas com a necessidade de jogar uma tinta nas paredes antes de mudar de endereço num imóvel antigo? É preciso pesar o que for mais interessante na balança.
“A vantagem de comprar um apartamento pronto, seja novo ou usado, é que o cliente não corre risco de haver um atraso, um problema técnico. Normalmente o consumidor que adquire um usado, ou pronto, vende o dele e faz uma poupança. Na hora que vai trocar para um maior ou de melhor localização, pega o dinheiro todo e compra. Agora, imagine quem faz a mesma operação em um imóvel na planta. De repente, cai uma tempestade que joga a obra abaixo, e a entrega atrasa seis meses. Ou, ainda, a firma encontra dificuldade em achar o material necessário, o que provoca a demora. Tudo isso recai sobe o comprador do apartamento. Se ele vendeu o dele, fica descoberto porque nisso a inflação já comeu parte do dinheiro”, explica José Baldaque, diretor comercial da Dorex Incorporações.
A consultora em Tecnologia da Informação, Marcelle Balthazar, de 31 anos, e o seu marido Marcelo de Mattos, 43 anos, administrador de empresas, optaram por um apartamento usado, em Pendotiba, para garantir um espaço maior, já que têm uma filha pequena, a Letícia, de 5 anos, que adora espalhar seus brinquedos pelos cômodos.
“Meu prédio tem 10 anos de construção. Trata-se de um apartamento de 120 metros quadrados, com três quartos. Eu o preferi por conta do tamanho mesmo. Os imóveis lançados recentemente têm espaço muito reduzido. Estava morando em um de 75 metros quadrados, com toda a infraestrutura, área, mas não me adaptei, me incomodava, o vendi para adquirir este. O meu não tem área de lazer, ainda vão fazer, mas precisava de um local onde a Letícia pudesse fazer a bagunça dela. No anterior, quando a minha filha era mais nova, não tinha lugar nem para guardar suas coisas, como o carrinho de bebê. Minha casa ainda tem duas varandas, o que faz toda a diferença”, ressalta Marcelle.
Vantagem – Ainda conforme Baldaque, a vantagem de comprar um apartamento mais novo é que pode se comprar mais barato e é possível dar apenas uma pequena ou média entrada, dependendo do tamanho e da localização. Fora o fato de que não haverá juros.
“No final, vai fazer uma escritura e se mudar. Para adquirir o usado, a pessoa vai ter que praticamente pagá-lo à vista. É preciso ter dinheiro suficiente para comprá-lo”, justifica o diretor.
Uma alternativa para quem não quer esperar o decorrer de uma obra de um imóvel adquirido na planta, e quem não quer se arriscar, comprando uma residência antiga demais, com possibilidade de apresentar problemas elétricos e/ou hidráulicos, por exemplo, é comprar um imóvel restante, depois do período de lançamento na planta, quando a construção tiver sido finalizada. É o caso do Forever Residence, da Dorex Incorporações, na Praia de Charitas. Basta negociar, comprar e se mudar.
Garantia – A jornalista Maria Luisa de Melo, de 25 anos, comprou um apartamento na planta para a mãe morar e dividiu as despesas de outro comprado pelo noivo, para o casal. Ambos são do Rio de Janeiro, em Campo Grande, Zona Oeste, financiados através do programa Minha casa minha vida. Ela diz que um dos motivos para ter escolhido um imóvel novo, em lugar de um usado, é o fato de o mesmo ter cinco anos de garantia pela construtora.
“Além disso, no usado, não consigo subsídio do Governo Federal. Já em um imóvel na planta, sim. No Minha casa minha vida 2, o desconto é de até R$ 25 mil. Ou seja, se eu optar por um usado, vai ficar mais caro”, explica a jovem.
O imóvel comprado para a mãe dela, no entanto, atrasou 10 meses. O que ela e o noivo compraram também teve atraso, de cerca de cinco meses.
“Casamos esse mês e ainda não teremos lugar para morar. Ficaremos um tempo na casa dos meus sogros”, diz Maria Luisa.
Perfil – De acordo com o diretor-tesoureiro do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado do Rio de Janeiro (Creci-RJ), Laudimiro Cavalcanti, geralmente, quem adquire um imóvel em lançamento, na planta, é aquele jovem, com idade entre 25 e 35 anos, que planeja o local ideal para moradia, e que não tem dinheiro guardado, ou seja, depende de um financiamento pago em parcelas feito por bancos ou as próprias incorporadoras.
“Ele vai pagando lentamente, dá uma entrada pequena para conseguir a sua casa própria. Em compensação, ele demora dois anos para tê-lo, mas terá um apartamento novo, em que será o primeiro morador, com instalações novas e uma garantia pela frente”, pondera.
Há ainda aquele que compra na planta para investimento, quando é lançado, vai pagando, e depois repassa o imóvel, valorizado, para outro comprador final. Já quem adquire um lar usado, é aquele que quer o imóvel de uso imediato, ou quase imediato.
“Vai casar uma filha, mudar de posição no trabalho. Será necessário fazer uma pequena reforma, uma adaptação para o novo morador, que só tende a valorizar o local. Normalmente mexem na cozinha e/ou mudam uma parede”, comenta.
Melhorias – De acordo com o artista plástico Rogério Botelho, que costuma participar de reformas nas casas, ao realizar seus trabalhos com clientes, o valor acrescido a um imóvel depois da reforma “varia muito”, mas ele defende pequenas obras antes da venda.
“Acho que tudo que compromete o funcionamento do imóvel precisa ser refeito, como a parte hidráulica e elétrica. É preciso fazer um reparo estrutural. A escolha dos materiais é a melhor forma de avaliar: o acabamento, o quanto isto beneficiou a estrutura do apartamento, se trouxe mais conforto etc”, afirma.
Cuidados especiais antes de fechar o negócio
Para Cavalcanti, a precaução deve existir sempre, independente da escolha de um imóvel novo, usado, pronto, ou na planta. Mas o ideal é que a pessoa tome diversas medidas se a sua opção for por uma casa antiga. Caso contrário, o que parece um sonho, pode se tornar um pesadelo.
“É necessário verificar o histórico do imóvel, observar se é necessária uma reforma grande. Para ver se o preço cobrado é justo, é fundamental contratar um corretor e até um arquiteto, pois só o fato de precisar de reforma faz com que o futuro comprador possa barganhar de 20% a 30% da oferta. Às vezes, uma avenida, uma ponte ou um viaduto que futuramente vá passar perto pode prejudicar a valorização e, além disso, o comprador pode não querer ter isto como vizinhança. Também é necessário saber se o local tem algum tombamento”, recomenda.
Dicas – De acordo com o Procon, a inspeção no imóvel deve incluir desde a pintura até as instalações elétricas e hidráulicas. Trincas e rachaduras em paredes podem indicar problemas estruturais. Em apartamentos, vale a pena verificar também se as vagas de garagem são demarcadas. Fique atento se a cobrança de serviços como água, luz e gás é individual ou é feita junto com o condomínio.
O passo seguinte vale tanto para casas quanto para apartamentos: investigue qual é a rotina da vizinhança. Visite o local em horários diferentes, para saber qual o nível de ruído e agitação ao longo do dia. Veja qual a infraestrutura existente no bairro: bancos, escolas supermercados, farmácias, dentre outros. Com os vizinhos, se informe sobre a segurança e sobre possíveis projetos de desapropriação de imóveis. O acesso ao transporte público e o volume de tráfego nas vias de acesso ao local também são fatores decisivos.
Na hora de checar a documentação da casa ou apartamento, é fundamental a leitura da matrícula do imóvel. O documento, que pode ser solicitado no cartório de registro de imóveis da área, contém todo o histórico do bem. Por meio dele, é possível saber quem foram os donos anteriores além de informações sobre dívidas e hipotecas referentes ao bem.
Outro ponto que merece a atenção, principalmente de quem vai comprar financiado, é se a descrição do imóvel na matrícula é igual às características da construção. Um “puxadinho” irregular pode inviabilizar a concessão do crédito.
Antes de assinar, leia atentamente o contrato. Nele devem constar informações básicas sobre as partes envolvidas (nome completo, profissão, estado civil, nacionalidade, CPF, RG e endereço) e tudo aquilo que foi tratado verbalmente durante as negociações.
O Fluminense
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